Não há
cidadania sem a politica e nem política sem cidadania, para ser cidadão tem que
estar em dia com os seus direitos políticos. A diferença entre cidadania e
política é porque a política é uma palavra de origem grega e cidadania do
latim.
É comum ouvir,
principalmente dos mais jovens, que política
é coisa de idiota, pois observando a origem da palavra é justamente o
contrário. A origem da palavra idiota vem do grego, que significava quem só
pensa na sua própria vida e recusa a política. Aquele que se dedicava a cidade
e a comunidade ou a sociedade era chamado de político. É justamente dessa forma
que a elite (intelectual conservadora e do capital) quer que o povo se
comporte, pois um povo que discute política é muito mais difícil ser enrolado e
consegue distinguir melhor quem está verdadeiramente do seu lado.
Não podemos
confundir partido com política, partido é apenas uma das maneiras de fazer
política. Não é necessário partidarizar o debate o mais importante é politizar
o conteúdo, pois isso gera consciência política. Partido você tem o direito de
decidir se quer ou não fazer parte, já a política, quer você queira ou não ela
vai fazer parte da sua vida, o fato de ficar neutro é um ato político que
geralmente significa ficar ao lado dos poderosos.
A ausência da
discussão política facilita o surgimento dos falsos líderes, dá força e vez
para o fascismo o conservadorismo. É
preciso entender que um voto em vereador está vinculado às ideias que seu
partido defende, pois a partir do momento que ele é eleito ele passa a fazer
parte do mapa do poder de um município, estado e nação. O voto é importante,
mas tem consequência, muitas vezes decidiram o destino de milhões de pessoas.
Acompanhei
atentamente todas as manifestações no mês de junho e observei muitas coisas
que, sinceramente fiquei preocupado. Aqui em Florianópolis eu ouvi o Presidente da AEMFLO e CDL/São José falando
na CBN que os empresários estavam apoiando o movimento e que isso o fazia
lembrar o tempo que ele cursava a universidade em que os jovens foram para a
rua apoiar a “revolução“, ou seja, a ditadura de 1964, apoiando inclusive o
fechamento da ponte. Isso foi
emblemático.
A pauta colocada nas ruas, exceto a do
passe livre que é legítima e consistente, as demais eram a pauta da mídia, sem
conteúdo e sem liderança. Aparecia mais saúde, mas não vinculava a luta social
travada para aumentar os recursos para a saúde. Aparecia abaixo a corrupção,
mas vinculava ao projeto de estava tramitando que pela primeira vez no Brasil
pretende punir o corruptor também.
Não havia nenhuma menção pela redução da carga horária para 40 horas semanais será porque contraria
os interesses da Grande Mídia e dos patrões? Não havia ninguém pedindo a redução dos juros, será porque
contraria os interesses da Grande Mídia e do setor financeiro? Olha que os
juros e os encargos da dívida consomem hoje quase 43% dos impostos arrecadados
e no passado chegou a quase 60%. É preciso olhar a lei que rege o fenômeno e
não só apenas o fenômeno, já dizia Karl Marx.
Qual o legado da mobilização? Na minha
avaliação o maior legado e a abertura para fazer o debate e a disputa política
com a juventude do Brasil. Há tempo que eu já vinha discutindo com colegas
sobre a dificuldade de debater política com a juventude. O difícil é encontrar
a forma ideal para fazer este debate, pela internet você não debate apenas
compartilha. Nas universidades tenho muito pouca esperança, pois a maioria dos
cursos são voltados para o mercado e, neste caso, o debate não costuma se
contrapor aos interesses do mercado, principalmente porque muitas pesquisas são
financiadas pelo setor privado. E ainda tem um problema a mais, hoje no Brasil
tem muito curso superior que não são feito dentro da sala de aula e boa parte
através de vídeo aula.
Outro legado é que o povo nas suas
manifestações genéricas deixou claro que quer mais presença do Estado e isso
pode ser um grande problema para os governantes conservadores e defensores do
mercado e do estado mínimo. O povo não irá aceitar como queriam no passado a
privatização das Universidades Federais, acabar com a CLT e as garantias no
mercado de trabalho, retirar da constituição a expressão “a saúde é um direito
de todos e dever do estado”, desvinculação do salário mínimo para os
aposentados.
Assina: Carlos Borges