POLÍTICA,
CIDADANIA E SEGUNDO TURNO DAS ELEIÇÕES
Gostaria
de pedir, de forma respeitosa, expor a minha posição frente ao
processo eleitoral do Segundo Turno. Para tanto, antes gostaria de
tratar a questão política em um âmbito mais geral.
A
possibilidade de todos ser cidadão foi uma conquista engendrada pela
luta, não foi simplesmente um ato de bondade da elite conservadora
brasileira. No seio da elite brasileira também sempre houve uma luta
entre liberais e conservadores e entre o setor industrial e o setor
agrário exportador.
A
cidadania foi construída e reconstruída pela luta política. Não
há cidadania sem a politica e nem política sem cidadania, para ser
cidadão tem que estar em dia com os seus direitos políticos. A
diferença entre cidadania e política é porque a política é uma
palavra de origem grega e cidadania do latim.
Era
muito comum ouvir, principalmente dos mais jovens, que política é
coisa de idiota, ou que este assunto não lhe interessava. A ideia
passada pelas elites é que política e religião não deveria ser
discutido. Ora, essa era uma forma das elites afastar o povo do
verdadeiro poder.
A
origem das palavras politica e idiota demonstra justamente o
contrário. A origem da palavra idiota vem do grego, que
significava quem só pensa na sua própria vida e recusa a
política. Aquele que se dedicava a cidade e a comunidade ou a
sociedade era chamado de político. É justamente dessa forma
que a elite (intelectual conservadora e do capital) quer que o povo
se comporte, pois um povo que discute política é muito mais difícil
ser enrolado e consegue distinguir melhor quem está verdadeiramente
do seu lado.
Não
podemos confundir partido com política, partido é apenas uma das
maneiras de fazer política. Não é necessário partidarizar o
debate o mais importante é politizar o conteúdo, pois isso gera
consciência política. Partido você tem o direito de decidir se
quer ou não fazer parte, já a política, quer você queira ou não
ela vai fazer parte da sua vida, o fato de ficar neutro é um ato
político que geralmente significa ficar ao lado dos poderosos.
A
ausência da discussão política sempre facilitou o surgimento dos
falsos líderes, dá força e vez para o fascismo o conservadorismo.
É justamente neste ponto que nos encontramos na atual conjuntura
política brasileira.
A
velha direita conservadora, como sempre na história deste país,
conseguiu reinstalar a cultura do ódio e do medo. O ódio ao PT
sempre existiu, sempre fez parte das forças conservadoras deste
pais, até Juscelino Kubitschek foi perseguido pelo regime militar,
mas até pouco tempo atrás havia, por parte da mídia, um certo
respeito republicano com a pluridade das ideias. O STF muito ajudou
na construção na construção do enredo, principalmente com o papel
desempenhado pelo ex-ministro Joaquim Barbosa para justificar a
adotação da teoria do domínio do fato, indo na contramão da
legislação brasileira em relação o princípio da presunção da
inocência, segundo o qual, todos são inocentes, até que se prove
sua culpabilidade.
Durante
os últimos oito anos, o povo foi, de forma massiva, bombardeado com
um monte de informações para que o jogo ficasse embaralhado e
criasse uma grande confusão na cabeça das pessoas. A ideia central
foi formar uma “cortina de fumaça” para criar a possibilidade
de esconder o que na realidade está em jogo, colocaram alguns bodes
na sala para dificultar o diálogo. Isso ficou muito visível nas
manifestações de Junho de 2013, onde a partir de então começou a
construção massiva da cultura do ódio com forte financiamento
externo e do grande capital nacional. O movimento Vem Pra Rua e MBL
são os baluartes na construção deste enredo.
Mas
o que está em jogo? Esta resposta está ao tempo todo sendo
escondida pelos interesses da grande donos da mídia brasileira
(Globo, Folha, Veja e outros), pois eles (principalmente a grande
mídia) defendem, em primeiro lugar os seus interesses, da elite
conservadora e os interesses do grande capital. Para este pessoal não
há espaço para defesa do povo trabalhador contra o capital.
Está
em jogo é o projeto de desenvolvimento do Brasil comandado por um
agrupamento político da sociedade brasileira que, seu força advém
das lutas que tem como objetivo o contraponto às políticas
entreguistas, privatistas e desnacionalizantes dos anos 90 e do
início deste século e atualmente implementada novamente pelo
governo golpista de Temer.
Os
projetos de desenvolvimento nacional ligados ao campo popular,
defendem que a renda continue sendo mais bem distribuída e que
incluiua milhões de pessoas a viver sob uma condição mais digna,
com mais perspectiva de conseguir casa própria e ter emprego. Também
defende que o Brasil dialogando com o mundo de forma mais
independente e não como ator coadjuvante do elenco da Casa Branca
comandada pelo Governo Norte Americano, como é no governo atual.
Do
outro lado está o projeto que irá manter a política de Temer, onde
o Petróleo deixará de ser uma riqueza nacional para atender as
necessidades do povo brasileiro para atender os anseios do capital
internacional, especialmente o norte-americano.
É
na verdade um velho projeto que busca somente manter o poder da velha
elite que comanda este país há 500 anos, mesmo o candidato
Bolsonaro não seja um político forjado no seio da Elite, e ser um
mero capitão reformado, mais foi o que sobrou para fazer o
enfrentamento, principalmente pelo lado da elite conservadora e
extremista. São vinte mil famílias que, mais ou menos, controlam
46% de toda a riqueza nacional, sendo que 1% delas possui 44% de
todas as terras, por isso, estamos entre os países mais desiguais do
mundo, o que equivale dizer, um dos mais injustos e perversos do
planeta.
Sei
que a imensa maioria dos colegas da sala não estavam no mercado de
trabalho na época do governo neoliberal de FHC, mas seus país
estavam. Na época o que mais se falava era que emprego com carteira
assinada estava com os dias contados, tínhamos que criar outras
formas de gerar renda e acabar com a CLT, acabar com a era Vargas.
Não conseguiram em função de haver um congresso mais progressista
e menos comprável pelo dinheiro. Até que veio o golpe de 2015 e
conseguiram acabar com o mínimo de garantias para o povo
trabalhador. A crise só se aprofundou e aumentou sensivelmente as
possibilidades de um futuro mais instável.
Quem
começou a se importar com os assuntos políticos nos últimos 04
anos, pela sua idade ou porque antes não se interessava, talvez
tenha a impressão que o Brasil da década de 90 era uma maravilha,
tudo perfeito, de forma indireta essa foi a narrativa construída a
partir de Junho de 2013. Para demonstrar que isso não é verdade
apresento um quadro abaixo comparativo que eu elaborei ainda no ano
de 2014.
Além
da questão ligadas ao campo econômico e social o outro polo da
corrida presidencial traz consigo tudo de pior que aconteceu no
século passado no continente Europeu, o fascismo e a intolerância.
Candidatura que negam a democracia deveria
ser de pronto ser rechaçada pelos eleitores, o nosso problema não é
excesso de democracia, mas sim a sua falta.
Sei
que muitos colegas talvez não encontre o seu candidato adequado para
votar, mas o voto ter que ser exercido com a responsabilidade do
tamanho que o momento exige.
Para
o povo esclarecido, ou que busca o esclarecimento, não pode haver
dúvida sobre qual projeto escolher. Nesta eleição junto com a
pessoa para governar você está escolhendo um projeto para o país,
este projeto político também irá servir de referência para outros
países. O mundo está cheio de maus exemplos, não precisamos
construir mais um.
Uma
das coisas que mais arregimentou forças em apoio ao candidato
Bolsonaro foi a questão de liberar o posse de arma para a população
ficar mais protegida. Na minha avaliação isso tornará a segurança
das famílias ainda mais instável, basta observar que 70% dos crimes
contras mulheres ocorrem dentro de casa por seu marido, familiar ou
um amigo mais próximo. Ter uma arma e reagir é contra toda a
informação passada pelas forças de segurança, sob pena de
aumentar ainda mais o risco em uma situação de violência.
Sobre
a questão da segurança pública traz uma construção ideológica
militarista, ora se isso fosse tão simples as intervenções
militares no Rio de Janeiro já teriam resolvido. Estudos apontam
sobre a necessidade de um conjunto articulado de medidas para ser
acopladas ao sistema de segurança. Não adianta o Brasil continuar
tendo a polícia que mais mata e mais morre no mundo.
A
militarização da segurança, tão somente, há tempo vem
demostrando sinais de esgotamento, talvez nunca tenha funcionado como
deveria e seja uma herança dos regimes de exceção que funcionaram
no Brasil. Não adianta pensar somente em repressão ao crime
organizado se a cada ano, por incompetência das forças de
segurança, as organizações criminosas tem conseguido se armar cada
vez mais. Onde estão as políticas para diminuir ou restringir o
número de consumidores de drogas, a grande financiadora do crime
organizado?
Tudo
que falei acima pode não ser o suficiente para convencê-lo a
modificar o seu voto ao candidato Bolsonaro, mas a ideia foi tratar
de alguns pontos de forma global para que você acadêmico do curso
de direito faça a sua reflexão. Importante ressaltar que você não
está diante de uma partida de futebol, onde terminada a partida nada
mudará em sua vida. Muito diferente é a escolha que você ira fazer
no segundo turno desta eleição, neste caso se Bolsonaro ganhar você
também irá perder, para isso, basta olhar as posições que ele
sempre defendeu no congresso e as suas declarações que circulam
pela imprensa. O que ele tem falado em público já é o bastante
para um cidadão, de forma racional e sem a contaminação do ódio,
entender que o que está sendo proposto será o caos, principalmente
aquele que não vive de renda do mercado financeiro, que não é um
grande latifundiário, que não é um grande industrial e que vive de
forma preponderante com a renda do seu trabalho (mesmo pequeno e
médio empresário). Imaginem sobre o que ele tem falado no âmbito
privado, basta refletir sobre a possibilidade que ele teve de
conseguir conhecer um candidato a Vice e sobre o que ele tenha falado
para deixar horrorizada a extrema direita francesa.
Termino
por aqui, sei que precisaria falar sobre outros assuntos, mas o meu
tempo é curto e talvez o tempo necessário da leitura leitura pelos
colegas seria um dificultador.